Capoeira Regional
Algumas Informações
Capoeira Regional, Luta Regional Baiana ou simplesmente Regional são os nomes que designam a capoeira (re)inventada pelo Mestre Bimba.
Suas principais matrizes são as “capoeiras de antigamente", dita de angola e o batuque – samba luta; Nessas matrizes estão os princípios e fundamentos da Regional. Coerente com a natureza dinâmica da Capoeira, A Regional foi concebida como uma "obra aberta" , culturalmente elástica, com capacidade para integrar-se com outras culturas influenciar e recepcionar influencias, experimentar novos inventos , preservando contudo sua originalidade, a integridade dos seus princípios, fundamentos e sua relação mítica com a cultura negra: ginga, manha(malicia), musica culto a ancestralidade e religiosidade. Distante destes elementos ela perde vida e sua pratica se torna uma manifestação de repetição mecânica.
A Capoeira Regional, criada entre o final da década de 20 e inicio da de 30, do século passado, não se caracterizou, exclusivamente, como uma nova forma de jogar capoeira, mas teve implicações de outras ordens. Modificou os modos de relacionamento da capoeira com sociedade que a reprimia, ganhou proteção jurídica, estendeu as possibilidades para a sua pratica, penetrando em espaços sociais solidificados (academia, escolas, clubes sociais, quartéis, palácios.....); estabeleceu a capoeira como um oficio, podendo ser praticada com dignidade profissional através da comercialização da suas atividades (aulas, shows, apresentações); deu "rigor pedagógico" ao seu ensino, criando um sistema para sua transmissão e um método de ensino.
O curso de Capoeira Regional
Método de ensino
O Mestre Bimba introduziu uma nova forma de ensino da capoeira, criando um método que permitia que a mesma pudesse se ensinada a vários alunos ao mesmo tempo, seguindo um plano pedagógico:
- Aulas
- Turmas
- Horários determinados
- Lições
- Treinamentos específicos
- Avaliações
- Formatura
- Especializações
Um método que conciliava novos e antigos modos de transmissão da capoeira e que também facilitava aos alunos provenientes de outros meios, que não os tradicionais da capoeira, a se habilitarem para o seu jogo, dominando os atributos que os antigos recomendavam para um bom capoeirista – esperteza, agilidade, elasticidade, jogar em cima e em baixo, ser corajoso entre os outros.
Principais elementos do método
O exame de admissão, avaliação inicial do aluno-calouro, através dos seguintes exercícios – Guarda baixa, Negativa, Preparação para queda de rim, Aú com role e Ponte. É uma chance para o aluno mostrar suas propensões, sua junta, facilidades e dificuldades corporais para a pratica da capoeira.
O aprendizado da ginga – O mestre pegava nas mãos do aluno e através dela se iniciava o aprendizado, a transmissão da capoeira, ensinando a ginga, movimento fundamental da capoeira, sem o qual ela não existe. De mão em mão, dessa forma a Regional preservou esta forma de passagem da capoeira como pratica artesanal, De mão em mão um ato de compromisso com a sua existência.
A Seqüência do Mestre Bimba – Oito series de golpes e contra golpes combinados, feitos em parceria, que devem ser praticados todos os dias de aula. " A seqüência é o ABC da Capoeira Regional." Ela facilita e agiliza o aprendizado. Os golpes e movimentos nela treinados, são os mais usuais na roda de capoeira. Na sua composição o Mestre levou em consideração os aspectos mais importantes e valorizados da natureza da capoeira- jogar em cima e em baixo, reflexo, entrar nos golpes do adversário contra atacando, todos golpes saindo da ginga, cadenciamento...
Cintura desprezada – É uma seqüência de balões, executadas em parceria. Os balões, os golpes ligados da Regional, criados por Bimba, cujo pragmatismo era o de ensinar o capoeirista a saber sair e livrar-se dos agarrões, tinham tradição na capoeira de antigamente, que possuía os balões, conforme os relatos do velhos Mestres e dos cronistas do passado da capoeira.
Entrar no aço - Termo em que o Mestre Bimba assinalava como à entrada do calouro na roda. O Aço era referencia ao arame sonoro do berimbau. Era o batismo, quando o calouro jogava com um veterano, que a partir de então seria o seu padrinho.
A entrada na roda é feita quando o aluno já sabe executar uma parte da seqüência.
A Roda – A Regional, assim como os velhos mestres da Bahia, valorizaram a roda como um dos mais importantes meios de aprendizado. Nas academias de Capoeira Regional, todas as aulas devem terminar com uma roda, Na academia do Mestre Bimba, as aulas terminavam com os alunos jogando ao som do berimbau, instrumento indispensável para o jogo da Regional. "Sem berimbau a capoeira tem outro andamento" dizia Bimba, era andamento para outras situações que dispensavam o berimbau, como uma situação de confusões, brigas de rua.., ou seja onde não se configura o ambiente de camaradagem dos capoeiras.
Treinamento de golpes. Pode ser feito em parceria, ou com o uso de cadeira, banco, balisa .... É preciso cuidado para evitar que os golpes deixem de sai ginga e, no caso de treinamento isolado, não se deve perder o sentido de jogo de dupla da capoeira.
Esquenta banho – Bumba-meu-boi – Podem ser feitos após as aulas, valendo um jogo mais duro, sem acompanhamento do berimbau, podendo no caso do bumba-meu-boi, o aluno enfrentar mais de um ao mesmo tempo. Era um treinamento para situações que pudessem os capoeiristas se deparar, em caso de briga. O esquenta banho "originou-se em virtude da Academia do Mestre Bimba possuir apenas um banheiro tendo assim os alunos de tomar banho um de cada vez, como ficar parado esfriava, os alunos ficavam esquentando para o banho.
Formatura – Na academia do Mestre Bimba, era a complementação do curso primário, segundo ele. Isto se dava quando o aluno tinha domínio sobre os movimentos da seqüência, aplicava com desenvoltura os balões e jogava muito bem na roda. Segundo o Mestre era a partir de então que ele começava realmente a ser capoeirista, quando começava a aprofundar o seu conhecimento, descobrir os truques.
Os cursos de especialização – No primeiro curso, os alunos se especializavam mais ainda no treinamento dos golpes já conhecidos, na sua formação primaria. No segundo curso, os alunos se especializavam em defender-se de armas (faca, navalha, facão, etc), este curso encerrava com as emboscadas no mato onde eram traçados varias situações perigosas para o capoeirista livrar-se lembrando as perseguições que os negros escravos, enfrentavam se livrando dos capitães do mato e perseguidores a mando do senhor.
Aprendizado musical – O mestre Bimba atribuiu tanta importância a este aspecto, que graduou como mestre, mestre xarangueiro, aquele aluno que alem de saber jogar, também sabia tocar berimbau, pandeiro e sabia cantar.
Simbolização das etapas:
- Formado lenço azul
- 1ª Especialização lenço vermelho
- 2ª Especialização lenço amarelo
- Mestre xarangueiro lenço branco
Através do símbolo - o lenço - a Regional revelava os seu cuidados em lembrar aspectos históricos da capoeira. Na capoeira de antigamente os capoeiristas usavam lenços de seda que evitava, anulando o corte da navalha.
A Xaranga
A Xaranga é a orquestra, a bateria de instrumentos.
A bateria da Regional tem a seguinte formação clássica: 1 Berimbau e 2 Pandeiros.
O Berimbau é o instrumento rei. É ele quem dá o toque (referencia), para o tipo de jogo e o seu andamento.
Geralmente são citados os seguintes toques de berimbau da Capoeira Regional: São Bento Grande, Cavalaria, Banguela, Santa Maria, Iúna, Idalina e Amazonas. O Mestre Bimba fez uma referencia ao toque Samango e estabeleceu o “Panha Laranja no Chão Tico-Tico” como o hino da Capoeira Regional.
Os Cantos são as Quadras e os Corridos.
As quadras são executadas enquanto os jogadores estão ao pé do Berimbau, no momento que ficou conhecido como preceito. As quadras, que lembram as pelejas dos cantadores e violeiros ligam os jogadores à função que eles executarão: a luta. Após as quadras são cantadas a louvações, em forma de interjeições, tiradas pelo o cantador da roda e repetidas pelo o coro, que fazem menções à ancestralidade e avisos para que os capoeiristas se concentrem e tenham atenção no jogo.
Os Corridos são cantados quando os capoeiristas estão jogando. Os Corridos são curtos, com letras facilmente assimiláveis, contendo refrões. Muitos delas provenientes de outras manifestações como o samba, o candomblé de caboclo e de pregões de vendedores ambulantes. Referem-se a aspectos da vida cotidiana ou a temas de domínio publico. A base rítmica e melódica é também de domínio público, popular, formas tribais de fácil reconhecimento. Os Corridos devem ser repetidos algumas vezes, no sentido de dar clima para o maior envolvimento dos jogadores.
As musicas de Capoeira são soladas por um cantador e respondidas pelo coro formado por capoeiristas e assistentes.
O Palmeado, que acentua o ritmo referendado pelo o berimbau.
O Coro e as palmas são também processos de integração dos assistentes a função, na qual eles estão presentes.
PRINCÍPIOS
· GINGAR SEMPRE
· ESQUIVAR SEMPRE
· JOGAR SEMPRE PRÓXIMO AO PARCEIRO
· TODOS OS MOVIMENTOS DEVEM TER OBJETIVO
· CONSERVAR NO MÍNIMO UMA BASE AO SOLO
· OBEDECER AO RITMO DO BERIMBAU
· RESPEITAR AS GUARDAS VENCIDAS
· ZELAR PELA INTEGRIDADE FÍSICA E MORAL DO CAMARADA
OS MANDAMENTOS DO CAPOEIRA
Respeitar o Mestre...
e guardar disciplina durante os treinos.
Manter vigilância permanente em todos...
e em todo o ambiente.
Não perder de vista os movimentos do parceiro.
Manter a calma em todas as situações.
Cuidar da segurança dos companheiros de treino.
Zelar pela higiene do ambiente de treino.
Não usar os conhecimentos adquiridos...
em brincadeiras ou agressões.
Obedecer ao comando do berimbau...
durante a prática da capoeira.
Obedecer às instruções do Mestre durante os treinos.
Praticar diariamente todos os movimentos.
Não se afastar do parceiro.
Não esperar tempo ruim!